terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O suicídio

É uma sorte estar vivo. A esperança de iniciar um grande dia era grande. Levantei-me, e a vida sorriu-me logo, não com um beijo da minha linda mulher mas com um saboroso aroma a Friskies: borrego; vegetais: um rabo, energeticamente basculante e uma lambidela - Joana, a minha cadelinha.
Assim que coloquei os pés fora da cama liguei a TV, à sorte. O canal que me calhou foi a TVI. Enquanto me lavava, com pedra pomes, as peles mais envelhecidas caíam a um bom ritmo - é o peso dos trinta e tal anos. Assim que cheguei ao quarto, o que pensava ser uma cópia do quadro: Guernica: logo vi que era o meu corpo no espelho. O dia começava bem. Quando, finalmente, esqueci aquela visão dantesca, começava o programa: Você na TV: o máximo de 15 dentes na audiência; 4 próteses; todos viúvos; apenas um pulmão por pessoa; 25 Kg em pedras nos rins; e cerca de 150 metros a menos de intestino: este era o inventário da assistência...ah!!! e 7 sacos, cheios.
Um dos convidados tinha sete filhos: dois transexuais; uma meretriz; um pisou uma mina em Angola, contava apenas meio filho; o outro meio tinha pisado uma mina na Nigéria; dois drogados; um em coma, depois de ter sido atropelado pelos dois meios filhos, no carro do pai - um guiava e outro tocava nos pedais, uma dupla perfeita (acabámos de receber a notícia que são apenas seis filhos...não resistiu à jante no baço). Pumba!!! Saí logo animado. Cheguei ao carro liguei o rádio na M80. Logo me deparei com o som de: Killing me softly. Conduzi, sempre com medo de um camião desgovernado na minha direcção. Safei-me, cheguei ao meu destino - o Café. Nada me aconteceu nesses momentos. Um momento: meu; calmo; paz; silêncio; felicidade: consegui usufruí-lo na totalidade, apenas o detalhe da chuva e do granizo estavam a desconcentrar-me daquele momento.
Cheguei a casa já após a hora do almoço. Por infortúnio liguei a televisão. A luz de várias cores que emanava da TV, chegava ao meu olhar sobre a forma de uma novela, denominada: Mulheres Apaixonadas. A história é simples: dois episódios felizes (o primeiro e o último); duzentos e trinta e oito episódios de traições; sofrimento; infelicidade; maus actores; e beijos com a língua na traqueia de cada humano: eu apanhei um dos episódios do meio, sem a parte da língua na traqueia. Quando dei por mim estava na cozinha com uma faca de serrilha encostada ao pescoço; despertei após um pequeno gás da minha cadelinha. O aroma era igual ao emanado de manhã. O mesmo aroma a Friskies: Borrego e Vegetais.
As férias continuam...

Ainda falta o programa - Vida Nova - com a Fátima. Hoje é sobre pessoas obesas que estão infelizes, sozinhas... Ah! o Cláudio Ramos continua no programa...vivo.
A infelicidade continua.

Despeço-me com amizade
SAF

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