sábado, 23 de outubro de 2010

Ensaio - 1

Estás sentado. Um pequeno copo de vinho tinto à tua frente. A segunda garrafa a meio. Um olhar perdido para a janela, apenas um vidro te separa do céu cintilante. Um milhão de luzes captam a tua atenção. Olhas. Olhas...Não encontras uma única nova luz. Conhece-as de cor. Quando a vês entrar pela pequena porta desse silencioso e velho restaurante, suspiras. Um pequeno vestido preto a cobre. Um decote que apenas tapa, por pouco, os seus mamilos. Um andar seguro. O seu corpo pára mesmo à tua frente. Sem qualquer palavra senta-se. A sua sensualidade é evidente pela forma como se senta. Assistes, totalmente inerte. Reparas imediatamente nos seus seios, voluptuosos, apenas tapados por esse desconcertante decote. Umas pernas maravilhosas e longas que se cruzam de uma forma lenta e arrastada.
- Olá, venho-te buscar. - Disse-te.
Apenas olhaste, sereno, para ela e disseste: - Eu.
- Sim. Anda. Acabou.
Tocou-me na mão. Senti-me sem forças. O meu corpo deixou de reagir aos meus impulsos.
Nunca pensei que tivesse chegado a minha hora. Não podia ser. Quero ficar: quero ainda dar; receber; amar; beber; ler; rir; abraçar; VIVER...
- Agora. - Gritaste
- Sim, vem. Não sentes nada. - Calmamente ela te disse.
- Não sentes nada. - Ouviste novamente.
Foste. O último dia.
Não deixaste nada. Nada. Ninguém sabe porque foste. Simplesmente abalaste.
Acabou.

Despeço-me com amizade
SAF